O USO DO VIAGRA POR ATLETAS
22 de Janeiro de 2009 -
Nas últimas semanas surgiram alguns artigos na escrita leiga sobre a possibilidade de alguns clubes de futebol fornecerem a seus jogadores comprimidos de Viagra antes dos jogos que serão realizados em altas altitudes. Fui inclusive questionado por alguns jornalistas sobre este tema tão polêmico.
Primeiro, sabemos que nas alturas, como em algumas cidades bolivianas, o ar, por ser mais rarefeito em oxigênio, dificulta o desempenho de atletas em geral. Com isso, existe menos oxigenação dos pulmões, cérebro e tecidos, como a musculatura responsáveis pelos exercícios do movimento. O indivíduo na altitude e durante o exercício sente-se fatigado, com frequentes tonturas e até sensação de desmaios. Nos últimos anos vários times de futebol têm sofrido as consequências da altitude durante a principal competição continental, que é a Copa Santander-Libertadores.
Com base neste adversário (altitude) que times como Grêmio (do Rio Grande do Sul) e Palmeiras (de São Paulo) veicularam notícias sobre o possível aproveitamento do Viagra pouco antes das partidas desta competição.
Pesquisando a literatura científica e médica li alguns poucos artigos que levantam este assunto. O que causou certo alarde foi o publicado na revista Journal of Applied Physiology. Dez ciclistas expostos à altitude e que tomaram Viagra conseguiram percorrer os seis quilômetros da prova em tempo 15% menor do que o outro grupo placebo, ou seja, que não havia ingerido Viagra antes da prova. Alguns pontos a observar: nem todos os ciclistas obtiveram vantagem ao tomar Viagra, e o experimento foi repetido ao nível do mar e não houve nenhuma melhora no desempenho nestas circunstâncias. Os pesquisadores chegaram à conclusão de que a sildenafila, princípio ativo do Viagra, produz relaxamento dos vasos sanguíneos dos pulmões e, com isso, ocorre uma maior troca de oxigênio entre os vasos sanguíneos e os pulmões, aumentando a oferta de oxigênio para os tecidos, especialmente os músculos utilizados durante o ciclismo.
Até o presente momento a sildenafila tem indicação e registro pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para disfunção erétil e para outra doença chamada hipertensão arterial pulmonar. Não está aprovada para ser utilizada em homens ou atletas que pretendem melhorar o seu desempenho em regiões com altitudes elevadas.
Além do mais, como este experimento mostrou que não são todos os homens que podem se beneficiar deste medicamento em condições de altitude, alguns inclusive podendo até sofrer com os seus conhecidos efeitos adversos, como dor de cabeça, eu recomendaria aos clubes brasileiros aguardar futuros estudos clínicos mais abrangentes e/ou com um grupo controle (placebo) maior. Desta única maneira poderíamos agrupar dados mais fidedignos e consistentes para utilizar o Viagra nesta população de homens. Por ora, continua sendo uma excelente indicação para melhorar a qualidade das ereções de homens que sofrem de disfunção erétil.
kicker: Dez ciclistas expostos à altitude e que tomaram Viagra completaram uma prova em um período 15% menor do que os demais
por Eduardo Bertero - Médico assistente do Departamento de Urologia do Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo
Primeiro, sabemos que nas alturas, como em algumas cidades bolivianas, o ar, por ser mais rarefeito em oxigênio, dificulta o desempenho de atletas em geral. Com isso, existe menos oxigenação dos pulmões, cérebro e tecidos, como a musculatura responsáveis pelos exercícios do movimento. O indivíduo na altitude e durante o exercício sente-se fatigado, com frequentes tonturas e até sensação de desmaios. Nos últimos anos vários times de futebol têm sofrido as consequências da altitude durante a principal competição continental, que é a Copa Santander-Libertadores.
Com base neste adversário (altitude) que times como Grêmio (do Rio Grande do Sul) e Palmeiras (de São Paulo) veicularam notícias sobre o possível aproveitamento do Viagra pouco antes das partidas desta competição.
Pesquisando a literatura científica e médica li alguns poucos artigos que levantam este assunto. O que causou certo alarde foi o publicado na revista Journal of Applied Physiology. Dez ciclistas expostos à altitude e que tomaram Viagra conseguiram percorrer os seis quilômetros da prova em tempo 15% menor do que o outro grupo placebo, ou seja, que não havia ingerido Viagra antes da prova. Alguns pontos a observar: nem todos os ciclistas obtiveram vantagem ao tomar Viagra, e o experimento foi repetido ao nível do mar e não houve nenhuma melhora no desempenho nestas circunstâncias. Os pesquisadores chegaram à conclusão de que a sildenafila, princípio ativo do Viagra, produz relaxamento dos vasos sanguíneos dos pulmões e, com isso, ocorre uma maior troca de oxigênio entre os vasos sanguíneos e os pulmões, aumentando a oferta de oxigênio para os tecidos, especialmente os músculos utilizados durante o ciclismo.
Até o presente momento a sildenafila tem indicação e registro pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para disfunção erétil e para outra doença chamada hipertensão arterial pulmonar. Não está aprovada para ser utilizada em homens ou atletas que pretendem melhorar o seu desempenho em regiões com altitudes elevadas.
Além do mais, como este experimento mostrou que não são todos os homens que podem se beneficiar deste medicamento em condições de altitude, alguns inclusive podendo até sofrer com os seus conhecidos efeitos adversos, como dor de cabeça, eu recomendaria aos clubes brasileiros aguardar futuros estudos clínicos mais abrangentes e/ou com um grupo controle (placebo) maior. Desta única maneira poderíamos agrupar dados mais fidedignos e consistentes para utilizar o Viagra nesta população de homens. Por ora, continua sendo uma excelente indicação para melhorar a qualidade das ereções de homens que sofrem de disfunção erétil.
kicker: Dez ciclistas expostos à altitude e que tomaram Viagra completaram uma prova em um período 15% menor do que os demais
por Eduardo Bertero - Médico assistente do Departamento de Urologia do Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo
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